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Post{o} de Vigia

Um blog de João Ferreira Dias

||| Post{o} de Vigia. um blog de João Ferreira Dias







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24
Mar25

O último suspiro?

Publicado por JFD

Francisco Louçã, Fernando Rosas e Luís Fazenda voltarão a ser cabeças-de-lista pelo Bloco de Esquerda. O regresso dos seus “monstros sagrados” é compreensível - nas próximas eleições o partido joga a sua sobrevivência parlamentar. Parece-me mais eficaz do que manter a estratégia meramente identitária, numa altura em que a direita radical capturou a “luta de classes”.

24
Mar25

Democracia: a última guerra cultural em Trumpos de cólera

Publicado por JFD

As gerações saídas da II Guerra Mundial, do Movimento dos Direitos Civis, do fim do Apartheid e da queda do Muro de Berlim – filhos de promessas revolucionárias – foram oxigenadas nas liberdades e nas possibilidades de um mundo renovado. O fascismo e o nazismo, com as suas ideologias totalitárias, exaltavam a criação de um "homem novo", orgulhoso da sua pátria, da sua cultura e da sua "raça" – mas deixaram apenas um legado de horror. O comunismo, que prometera uma sociedade de iguais, revelou-se uma utopia devastadora, transformando-se num regime opressor e totalitário.

O filósofo Jean-François Lyotard chamou-lhes "grandes narrativas": projetos políticos marcados por discursos de exaltação, cristalizados em ideias despóticas. O Ocidente, ao rejeitar estes modelos, não estava isento de violência e contradições, mas viu na democracia liberal a melhor alternativa disponível.

Transitar para a democracia era caminhar sobre uma terra agora alimentada pelas primeiras chuvas. Sobre as cinzas da história, podíamos construir algo novo. E era a democracia liberal e social, síntese das "liberdades dos antigos" e das "liberdades dos modernos", onde os direitos humanos passaram a ser consenso: integridade, liberdade, sufrágio, autodeterminação, educação, justiça, segurança social, saúde, informação e opinião livres. Tudo isto encapsulado nas ideias de Estado Democrático de Direito e Estado Social.

 

 

28
Fev25

AfD à portuguesa?

Publicado por JFD

A julgar pelas caixas de comentários dos jornais, se os portugueses votassem na Alemanha, votariam, esmagadoramente, na AfD. Há uma virada nativista no Ocidente, que ultrapassa divisões de classe social, e se centra numa insatisfação concreta e crescente com a imigração culturalmente diversa. Os partidos de direita radical podem ter programas económicos contrários aos interesses dos mais pobres, contrários aos valores da democracia e do Estado de direito, que isso pouco importa ao seu eleitorado, desde que combatem “as elites corruptas” (de que geralmente fazem parte e por quem são vastamente financiadas) e os imigrantes. Tivesse a escola cumprido o seu papel, e as pessoas saberiam que foi assim que emergiram o fascismo e o nazismo.

21
Jun24

Gullit e "blackface"

Publicado por JFD

No quadro das lutas pela hegemonia cultural e de guerras culturais que vivemos, de vez em quando vem à tona a questão do “blackface”, pratica em que uma ou mais pessoas brancas pintam a cara de negro de modo a representarem alguma personagem negra. O caso mais recente foi o de um grupo de adeptos dos países baixos (ex-Holanda) que pintaram a cara de negro, colocaram cabeleira e vestiram a camisola da seleção do país de modo a representarem o lendário jogador Ruud Gullit. 

 

 

18
Jun24

A questão do "orgulho gay"

Publicado por JFD

A trajetória dos movimentos LGBT(QIA+) explicita uma luta pelo reconhecimento e dignidade no seio de uma hegemonia cultural normativada a partir de padrões religiosos de matriz eminentemente cristã, que considera a homossexualidade um pecado, donde surgiu uma visão clínica que considerou tal orientação sexual uma patologia, e uma orientação jurídica que criminalizou a prática. Mas ainda no século XIX, na década de 1860, o advogado alemão Karl Heinrich Ulrichs, considerado um dos primeiros defensores dos direitos dos homossexuais, argumentava que a homossexualidade era inata e deveria ser descriminalizada. Mais tarde, o sexólogo alemão Magnus Hirschfeld fundou o Comitê Científico Humanitário em 1897, que se dedicava a promover a reforma legal e a aceitação social da homossexualidade. A partir dos anos de 1950 e 1960, dá-se uma aceleração das lutas pelo reconhecimento, com o surgimento de grupos organizados, e com a Revolução Sexual a trazer o desafio das normas sociais sobre sexualidade e género. No entanto, o marco decisivo para os movimentos LGBT modernos foi a Rebelião de Stonewall, que ocorreu em junho de 1969 em Nova York. Após uma batida policial no bar Stonewall Inn, frequentado pela comunidade LGBT, houve uma série de protestos e confrontos que duraram vários dias. Este evento é amplamente considerado o ponto de partida do movimento de libertação gay. Após Stonewall, surgiram numerosas organizações ativistas, como a Gay Liberation Front (GLF) e a Gay Activists Alliance (GAA), que defendiam direitos civis, sociais e políticos para pessoas LGBT.

 

 

20
Mai24

A família tradicional está ameaçada?

Publicado por JFD

A ideia de que a família tradicional está sob ataque é um dos elementos centrais dos discursos políticos da direita radical, participando de forma estruturante nas “guerras culturais” em vigência. Trata-se de uma ideia que, não tendo respaldo na realidade, aposta numa dimensão de “pânico moral”, ou seja, visa desestabilizar uma segurança imaginada entre setores conservadores e, sobretudo, ultraconservadores. Esses setores observam o avanço dos direitos das minorias sexuais como uma ameaça aos seus valores, como se ganhos de direitos representassem um perigo concreto para o seu mundo.

Nesse quadro de entendimento – que vimos, por exemplo, a propósito da família de Guimarães que não pretendia que os filhos frequentassem a disciplina de Cidadania –, há uma crença de matriz religiosa de que o “marxismo cultural”, enquanto encarnação do mal, tomou conta dos espaços públicos, nomeadamente do Ensino. Segundo essa crença, o objetivo seria desestruturar a sociedade como a conhecemos, sendo o seu elemento mais nuclear a família.

Desse modo, a simples existência pública de homossexuais, transsexuais ou pessoas não-binárias corresponde a uma ameaça concreta, já que, para esses grupos, há o perigo de “desencaminhar a juventude”. Tais identidades não são consideradas apriorísticas, mas antes resultado de um programa político de esquerda marxista cultural para acabar com a sociedade ocidental.

Portanto, a família tradicional não está sob ataque, até porque ela sempre foi, em grande medida, uma imaginação política e religiosa: o casal heterossexual, casado para a vida, com filhos, num lar devoto. Além do mais, verifica-se que a heterossexualidade permanece dominante, como padrão biológico e social.

Assim, o que encontramos é um pânico moral que é alimentado por setores políticos radicais para efeitos eleitorais. Ao imaginar que a família dita tradicional está ameaçada, permite-se articular um conjunto de valores nacionalistas em torno de identidades sociais fechadas e assentes no monismo cultural e sexual.

15
Mai24

E se o Museu de Benavente tivesse um espólio africano?

Publicado por JFD

Sucede que o tem, numa quantidade suficiente para dela extrair uma exposição permanente.

Todo o museu local é, em primeiro lugar, uma salvaguarda etnográfica das práticas e tradições culturais do seu povo, cumprindo um papel simultaneamente de recolha, salvaguarda e de fruição, da qual resultam processos educativos essenciais, junto das suas populações escolares e públicos diversos, que permitem encapsular e contar a memória histórica local. Nesse sentido, um museu como o de Benavente -- particularmente no contexto de remodelação -- deverá cumprir papéis concordantes com a museologia e museografia do século XXI, deixando de ser um espaço de depósito de objetos e de produção cultural residual. Quem me conhece sabe que há anos que defendo uma reconfiguração conceptual do Museu Municipal de Benavente (MMB), no sentido de o levar ao encontro das suas possibilidades, ultrapassando uma visão fortemente ideológica de aconchego de património. Numa realidade sociológica em profundas transformações, Benavente, enquanto sede de Concelho, deve ter um museu que projete devidamente a sua cultura e ao mesmo tempo seja capaz de diversificar a sua oferta cultural e científica.

 

03
Mai24

A sombra é política essencial

Publicado por JFD

Devo reconhecer a minha incompreensão face à política da autarquia de Benavente em relação às sombras nos espaços públicos. Benavente é um Concelho inserido no distrito de Santarém, um distrito fortemente fustigado pelas ondas de calor desde a primavera até ao outono. Embora as temperaturas médias sejam de 30º nessa altura, não são raros os dias que chegam perto ou ultrapassam os 40º. No quadro da vila de Benavente, por exemplo, verifica-se uma incompreensível desatenção à importância das árvores no arrefecimento e melhoria da qualidade do ar. Isto torna-se mais gravoso nos parques infantis enquanto espaços de lazer destinados às crianças, que são absolutamente infrequentáveis durante a maior parte do dia durante todo o verão. A este cenário acresce (i) a situação dos equipamentos escolares, carentes de árvores e alternativas de sombras para as crianças e jovens, que realizam atividades exteriores em condições pouco salubres, (ii) o facto de várias ruas da vila carecerem de soluções arborizadas de modo a baixarem a temperatura e permitirem a circulação de pessoas.  A obra realizada na Praça da República, que visava a requalificação estética foi um evidente fracasso, retirando as sombras das árvores e substituindo por umas espécies de para-sol cónicos que não cumprem o efeito, nem ofereceram uma valorização estética. 

 

 

22
Abr24

Passos Coelho e a “Sovietização”, ou de como as “guerras culturais” servem a recomposição da direita

Publicado por JFD

Sovietização, marxismo cultural, e termos semelhantes são usados cada vez mais no léxico político português, manifestando a importação das guerras culturais norte-americanas e uma trumpização da direita portuguesa.

Na apresentação do livro “Identidade e Família”, Pedro Passos Coelho, a páginas tantas, afirma que as famílias precisam de ser ajudadas na educação dos filhos e no ensino, mas dificilmente o conseguiremos com uma espécie de sovietização do ensino em que queremos dirigir o ensino em favor de uma determinada perspetiva que nem sequer é dominante na sociedade, quanto mais nas famílias”. A referência a uma “sovietização do ensino” tem um contexto concreto que poderá escapar ao leitor menos familiarizado com as chamadas «guerras culturais», um conflito sobre matérias de natureza imaterial, isto é, que operam no plano “dos costumes”, como interrupção voluntária da gravidez, direitos das minorias sexuais, identidade de género, e temas similares que apontam a uma disputa entre progressismo e conservadorismo, a partir de um tendencial e crescente prisma de inegociabilidade, em que o objetivo é silenciar o campo oposto. 

 

 

14
Abr24

Sombras nos espaços escolares

Publicado por JFD

Tendo já expresso a preocupação a quem direito, i.e., à direção do agrupamento escolar sem obtenção de qualquer retorno, e cumprido o dever de reforço da questão junto da mesma, faço uso do presente espaço para manifestar a minha preocupação com a ausência de espaços de sombra nas escolas de Benavente, para as atividades exteriores. Como é sabido, o Ribatejo é conhecido pelas suas altas temperaturas, o que torna as atividades ao ar livre um verdadeiro desafio, especialmente a partir do período vigente até ao fim do ano escolar.

Tenho reparado (nomeadamente no Centro Escolar) que as crianças apanham demasiado calor durante estas atividades (ainda que tenham chapéu, o que nem sempre acontece, pois não se verifica um reforço pedagógico por parte de quem tem essa incumbência), o que pode ser prejudicial para a sua saúde.

Assim, fiz questão de sugerir a colocação de redes de sombra nas áreas onde as atividades exteriores são realizadas. Estas redes são uma solução simples e eficaz para reduzir a exposição das crianças ao sol direto e fornecer sombra para que possam desfrutar das atividades ao ar livre de forma mais segura e confortável. Acredito que esta medida não só irá beneficiar a saúde e o bem-estar das crianças, mas também irá contribuir para a melhoria da qualidade das atividades ao ar livre que a escola oferece.

De igual modo, parece-me viável, o recurso a equipamentos como pavilhões municipais, espaços análogos, e de coletividades (veja-se o caso do Auditório Nossa Senhora da Paz) que por sua ligação à autarquia podem dispor dos mesmos para conforto das crianças e jovens do município, permitindo contornar este problema e, no caso, também as questões das dificuldades naturais durante o inverno.

Cólofon

Post{o} de Vigia é um blogue de João Ferreira Dias, escrito segundo o Acordo Ortográfico, de publicação avulsa e temática livre. | No ar desde 2013, inicialmente sob o título A Morada dos Dias Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

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