Não tenho problemas com a questão da identidade de género, e percebo a argumentação teórica de que o género é uma construção social, até porque, como já referi antes, há povos africanos onde a idade do corpo é mais importante do que a genitália, ou seja, é a idade que determina os papéis sociais, além de que o feminino e o masculino são papéis negociados e não plásticos.
Contudo, tenho reservas quanto ao modelo sócio-teórico em que vivemos, no qual o que se sente é sempre uma verdade incontestável e um dado adquirido. Por isso, não me opondo à mudança de identidade de género e a cirurgias de transformação biológica, defendo que estas devem acontecer numa fase adiantada da adolescência [o caso adquire contornos diferentes quando se manifesta em idade infantil], após profundo acompanhamento e avaliação psicológica. Não pode ser uma decisão de impulso, dado o problema de sérias consequências físicas numa possível reversão e não pode a família ser excluída do processo – nos EUA nos pais são forçados a aceitar o processo.
É impensável que seja mais fácil mudar de sexo biológico do que realizar um aborto.
Retomo: não tendo objeção ao procedimento, defendo que tem de ser feito com a máxima garantia de que se trata de uma decisão consciente, informada, maturada, e não de um impulso resultante de uma sensação que pode ser transitória sobre si mesmo. Não podemos passar da classificação como patologia à aceitação inquestionável. A identidade de género, a transidentidade, é um processo de autoconhecimento e isso não é feito com leveza, nem por impulso de ser trendy.