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Post{o} de Vigia

25.11.24

O nascimento do pós-modernismo foi marcado por uma descrença no universalismo enquanto "grande narrativa" Ocidental, tentando chamar a atenção para a necessidade de um certo relativismo cultural. Com o passado do tempo, em favor de lutas sociais, o relativismo tornou-se essencialista e estratégico, acabando por ser uma grande narrativa, ele mesmo, contra o Ocidente, enquanto espécie de origem de todos os males. Ora, sucede que a realidade é sempre mais complexa do que os essencialismos, e damos conta de que, muito legitimamente, quem tem preocupações com a condição das mulheres em todo o globo, está preocupada com a decisão do Iraque baixar a idade de consentimento para casar e ter relações sexuais no Iraque pode baixar dos 18 para os 9 anos, uma  proposta legislativa que pode, ainda, retirar às mulheres o direito ao divórcio, custódia parental e herança. Uma aberração, de facto, mas os valores que estão na base desse entendimento sobre os direitos das mulheres, de autodeterminação, em suma, de Direitos Humanos, tem uma matriz civilizacional Ocidental. 

11.11.23

Comumente considerado um produto de beleza feminina, símbolo de sensualidade e feminilidade, foi, ao mesmo tempo, durante os dois últimos séculos, um símbolo de empoderamento feminino, sobretudo nas suas cores vibrantes que desafiavam a ideia de recato. No século XIX, por exemplo, as sufragistas usavam batom vermelho para chamar a atenção para a sua causa. Elas acreditavam que o batom era uma forma de desafiar os estereótipos sobre as mulheres como seres frágeis e dependentes. Contudo, os últimos anos marcaram uma viragem profunda na interpretação feminista sobre o batom. Em razão de um enquadramento teórico-ativista de inspiração pós-marxista, o batom passou a ser classificado, por largos setores do movimento feminista, como símbolo do patriarcado e da sua opressão sobre as mulheres e consequente objetificação sexual. 

Em razão desse enquadramento ideológico, emerge uma agenda feminista que determina o que deve ou não deve uma mulher fazer, vestir, aceitar sexualmente, a fim de ser uma «verdadeira» feminista, praticando uma espécie de «opressão do bem», o que em última instância não deixa de ser uma forma de opressão. 

Ora, considero que o combate ao patriarcado não é sobre alguém ditar o que as mulheres devem ou não fazer com seus corpos, mesmo que esse alguém seja uma mulher que se considera representante legítima e líder intelectual do feminismo. O combate ao patriarcado e a defesa das mulheres é sobre a liberdade de escolha, sobre a poder usar ou não usar batom, poder usar ou não usar vestidos, pode ser progressista ou conservadora, poder ser lésbica, bissexual, heterossexual ou assexual. O que implica que não devem ser pressionadas ou julgadas pelas suas escolhas. Por ninguém, sob pena de se encontrarem sob jugos paternalistas.

Cólofon

Post{o} de Vigia é um blogue de João Ferreira Dias, escrito segundo o Acordo Ortográfico, de publicação avulsa e temática livre. | No ar desde 2013, inicialmente sob o título A Morada dos Dias Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.